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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

NO ESPELHO

NO ESPELHO

Um sorriso que não era; abriu-se triste em rosto indefinido.
Reflexo, imagem, espectro.
O sorriso já não era. Distante até mesmo do seu sarcasmo.
Só o desenho de sua carne refletida em olhos, boca, cabelo e dúvidas.
Imagem. Interpretação.
A mão procura a boca, e no espelho não há textura, espessura, tato.
Lentamente ergue o braço. Ela conseguiu. Fizera o que ninguém mais fizera.
A mão treme. O braço pesa.
No aço do espelho observa o espaço que a resumiu. A redução do corpo. Alguns livros; linhas de fuga, frestas e buracos na estrutura quase hermética do lugar; cadeiras, mesas, quadros – mais linhas de fugas – cada olho, cada rosto remetia a um outro que não ela, deslocamentos possíveis – exercícios necessários...
Ereta confrontando e confrontada por si mesma... e todas as outras que sabia que era, o olho traçava linhas invisíveis que a costurava magicamente ao seu outro. Ao ser outro.
Frente a frente os “eus” de cada uma se observavam. A concretude de uma e a efemeridade da outra... a realidade das duas. Multiplicidades.
A imobilidade de ambas. Metamorfose, simbiose da carne e do reflexo. Da criatura e do criador. Da luz e da sombra. Quem seria a sombra?
Ela conseguiu. Era o que o cérebro aquém do espelho pensava. Possibilidade.
No rosto as rugas em seus entrecruzamentos matemáticos prometiam números elevados. Os cabelos de um preto falecido lembravam infâncias distantes, sonhos...
Pensou na morte do reflexo. De tudo que era reflexo...
Gostaria de tomar um chá. Sentar à mesa de Hatta e Haigha em março e enlouquecer tentando descobrir porque um corvo se parece com uma escrivaninha.
Do outro lado a que não era sorri, grande sorriso único, solitário, zombeteiro sorriso de Cheshire: “Se não sabes para onde vais, qualquer caminho te levará lá”.
Lembrou da menina.
Onde andava Alice?


Ronie Von Rosa Martins

Texto também publicado na minha coluna no "ENTREMENTES - Revista digital de Cultura."

domingo, 3 de janeiro de 2010

Comer: da arte de dizer a comida ao fato de fazê-la ser além da comida; verbo

Colherei o grão da minha angústia
Plantarei árvores de abismos
Raízes distantes em tempo espaço e discursos
Mastigarei-as
Em danças caóticas de peiote e
Explodirei meu corpo em tantos e vários outros
Grãos.

E em cada vão.
Em cada frincha, fresta
Produzir a festa da não-razão
E os loucos todos convidar

A grande festa do meu devaneio; nosso
No fosso raso da minha verve
Redigir em palavra ilegível
Em gramática do delírio
Todo pergaminho que se perde
Na impossibilidade da língua

Com a língua
Lamber salivante a régia flor
Das certezas claras
Lambuzar os corpos
Exatos e enxutos de todo discurso hermético

Herético, dançar nos altares a ingenuidade da história
Beber todos os líquidos sagrados
Devorar na carne toda a carne sacra
Todas as páginas místicas
Palavra por palavra

Pantagruel empanturrado; Artaud explodindo
Corpo e loucura, mente e moral
E alterar o verbo e a verve
O fluxo e o curso
De qualquer, breve
E profundo pensar.


Ronie Von Rosa Martins

sábado, 26 de dezembro de 2009

profundidades epidérmicas

A PELE OU A CARNE OU O CORPO; OU NENHUM DELES



O corpanzil delimitado
Peso medida espaço
Espesso volume
Extenso cardume de “eus”
Armários de almas
Caixote de rostos
Gaveta de faces

Pedaços inteiros de todos
Tolos delírios do “uno”
Vômito de Cronos
Massa.

De imitado corpo anil
Céu e pretendido mar
No meio... o meio

O marejar, marestar, marandar
Navegar na carne
Além da carne; estar
Na pele o meio

Mais profundo
Abismo
Epidérmico.


Ronie Von Rosa Martins

Comer: da arte de dizer a comida ao fato de fazê-la ser além da comida; verbo

Comer: da arte de dizer a comida ao fato de fazê-la ser além da comida; verbo





Colherei o grão da minha angústia
Plantarei árvores de abismos
Raízes distantes em tempo espaço e discursos
Mastigarei-as
Em danças caóticas de peiote e
Explodirei meu corpo em tantos e vários outros
Grãos.

E em cada vão.
Em cada frincha, fresta
Produzir a festa da não-razão
E os loucos todos convidar

A grande festa do meu devaneio; nosso
No fosso raso da minha verve
Redigir em palavra ilegível
Em gramática do delírio
Todo pergaminho que se perde
Na impossibilidade da língua

Com a língua
Lamber salivante a régia flor
Das certezas claras
Lambuzar os corpos
Exatos e enxutos de todo discurso hermético

Herético, dançar nos altares a ingenuidade da história
Beber todos os líquidos sagrados
Devorar na carne toda a carne sacra
Todas as páginas místicas
Palavra por palavra

Pantagruel empanturrado; Artaud explodindo
Corpo e loucura, mente e moral
E alterar o verbo e a verve
O fluxo e o curso
De qualquer, breve
E profundo pensar.


Ronie Von Rosa Martins

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

UM BRANCO

UM BRANCO
Ronie Von Rosa Martins


Pasma
A caneta afasta o bico
do papel.
E a folha que se faz deserta
Faz-se falha.
A mão
Que o objeto prende
Na sua ânsia treme.
Angustia de não ser falha
E na folha cicatrizar o verbo
A beleza da nossa fala.

Silêncio!!!

Descansa lívida e pálida a folha enorme!
Treme a mão e a caneta dorme.
Neste momento;
Neste tormento que o ponteiro mostra.

E o grito e a noite...
E os passos que distante vão?

Minha mão repleta
De um profundo não.

domingo, 29 de novembro de 2009

COISAS DE SUJEITOS

COISAS DE SUJEITOS
Ronie Von Martins


Querer ser verbo
enquanto se é única e puramente
Artigo...
De indefinida voz
nessa tessitura social
passional.

Onde se travestem de ação
todos os discursos
que não o são.

Onde reverberam
ocultas criaturas
Sujeitos
E sujeitos à interferência
Morfológica
Classificatória
Nomenclatória
Designativa.

Sujeitos e sujeitos
à ambigüidade
turva da opinião!
Sujeitos e sujeitos
à bifurcalidade
dessa língua serpêntica
que se arrasta na própria
incompetência de mais que réptil
Não poder ser.

E neste emaranhado
De inexistentes sujeitos
De indeterminados sujeitos
Sujeitos estamos todos
Aos pontos finalizantes
E às vírgulas segmentadoras.