24/09/2017
As palavras haviam sumido. Da boca
sua. Da folha nua. Branca e imoral.
Oco. O mundo de criar. De criar
mundo, morto. Já não era deus. Nem nada.
Era só... o só.
Sozinho entre o desperdício de
energia e a incompletude de frases.
Uma bomba. Pensava em uma bomba. Arrebentar
com o silêncio do branco, grudar-se em Moby Dick até a derradeira morte. Trágica,
literária e épica.
Mas não. Era simples e fraco e
bobo e sem talento. Suficientemente sem talento. E as palavras eram fracas. Débeis.
E morriam todas. Enterradas em ideias inférteis. Confetes no carnaval simplório do lugar comum.
Então o chimarrão. Quente. Garganta à dentro. Vapor escaldante pelos
olhos vermelhos. Dor de cabeça e a impossibilidade do whisky. Sem álcool sem Bukowski,
Fitzgerald, Nelson Rodrigues... Sem nada. Só a nudez doentia da folha. Nada
comparado com “A pornografia” do
Gombrowicz. Palidez literária. Nudez cadavérica de qualquer mais profunda
fantasia.
E como ser um escritor de tal
corpo. Nu. Cru. Insensível aos grandes
arroubos de vida e morte? Como ser um escritor daquilo que não é trágico?
Como escrever a vida em corpo que
se abandona a morte?
Amarrar no corpo, um sopro de
qualquer palavra...e lançar no fogo. Um grito!
Um rito! Abraçar o corpo morto e
valsar na borda do abismo infinito. Com uma perna só. No vento. E se lançar na
garganta da serpente. De repente. Devorado pela palavra medo e suas formas
todas de fazer tremer. Perder.
Perder o corpo branco e nu. Por entre
as tintas de dor e cor e flor e odor. Tingir a página carne, a carne
pálida-papel de berro e grito. De fúria, de indignação.
Cuspir na folha branca todos os
verbos doentios que adoecem o lugar comum. O bom senso. A tradição do corpo
branco. Da página-folha-nua-morta.
E então no branco um ponto final.
Não o comum, mas aquele que perfura o corpo atravessa a página, rasga a unidade
do nada e propicia um fresta para
loucura. Um buraco vivo na folha morta.
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