O que busco?
Neste maravilhoso mundo de terrores tantos.
Lindos.
Alices e coelhos. Chapeleiros.
O que busco? Neste poço em que me atiro.
Lanço, mergulho, me afundo?
O que me busca do fundo deste espaço
profundo? Um mundo?
De letras o mundo que me cobre. Cobra
que se enrosca em frase e verbo e discurso, e me aperta a garganta e sufoca.
Outro mundo que habito no veneno da
serpente que me dilui em letra.
Oração insinuante que entre as pedras de
qualquer muro se introduz.
Muro de coisas dadas. Sempre faladas.
Muro de lugares comuns.
Busco o murro, neste muro repleto de meu
próprio rosto?
Busco o risco neste riso que é o meu e
que zomba? De mim?
O que busco nestas páginas que me
devoram, que me recobrem, que me configuram?
De Ahab, o grande capitão, a figura? Ou
a devastação da baleia, sua fúria?
Talvez a loucura das bicicletas de Flann
O’Brien, a angústia de um Monsieur Teste?
O outro lado de tudo! Não...não!!!
Dicotomia, dualismo... não é isso de que morro...ou vivo...
É resistir, como a flor que vence a
náusea... do Carlos e o cimento do mundo. Duro mundo cinza derrotado pela feia
flor de Drummond.
O que busco? Abraçar-me em Bartleby
recitando como um mantra : “preferiria não.” E me colocar neste ponto de total
indefinição.
Busco um café com Palomar. Discutir o
mundo e observar as ondas do mar e
aprenderia “como estar morto”. Busco isso. Não a morte, mas o encontro com a
intensidade. Observar Calvino e Becket discorrer sobre o fim... Palomar e Malone.
Neste espaço que se faz nos interstícios
de toda palavra, toda letra, toda frase, toda oração... Gastar um tempo
esperando Godot. Humano, falho, assustado. Bobo.
Busco a crueldade do teatro do Artaud.
Glossolalias, palavras sopradas com ar e sangue. Busco o ritual dos Taraumaras.
Mágica, mágica, mágica!
Na profundidade da pele de qualquer
palavra, busco os olhos do gato de Derrida e o animal em mim.Que já não sou.
Aqui, de onde a palavra exata já não
mais comanda, busco a ruptura mesmo da palavra, a sua deformação. Neologismo de
Joice, e seu indecifrável Ulisses, o “Nonada” do Gimarães Rosa. Do chão, no
mínimo detalhe, busco a grandeza do nada na Gramática de Manoel. E do barro de
tudo isso me recriar. Me re-nascer como a palavra E... e...
Golen de barro, que se rebela contra seu
criador, criatura de terra. Fertilizado de palavras e sentidos. E morrer em mim
mesmo... Sendo tantos outros. Meu verbo em barro, “minha substancia ainda
informe.”
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