Colocou os óculos.
Imagem ampliada. Consciência? Sorria diante da folha virtual. O mundo era
virtual. Mas era real também. Realidade em devir. E o sorriso era algo por aí.
Misto de chegar e não. Coisa que não se decide em ironia ou dor. Indecisão. Cisão. E começou.
Escrever. A música alta
no pátio procurava caminhos outros. A atenção se esvaindo em nota e letras.
Engenheiros. Engenharia. Tudo era engenharia. Pensou.
Concentração. Havia uma
necessidade de desligar-se. Precisava articular o texto, a idéia. Articulação.
Mas havia uma impossibilidade de determinar o assunto, o tema. Era sobre o
escrever?
Era sobre o escrever?
Sobre isso. A ação de engendrar letras, palavras, frases, idéias, textos? Era
isso. Um sofrimento. Uma alegria.
O sol era um convite.
Rua. Vida. Mas a página também era vida. Sua. E as letras também. Coisa de
arrepiar. Nômade perambulando em vasto deserto. Erguendo acampamentos moventes
em espaços de dimensões perturbadoras?
Sim. Era isso.
Avizinhar-se desta condição. Nômade. O deserto era a folha. Lisa. Espaço liso.
Criar um mundo. Mesmo que fosse fugaz . Mas um mundo. Não uma fuga. Não uma
desculpa. Mas uma luta. Uma guerra. Sim. Tinha que ser isso.
Uma guerra silenciosa.
Dobrar e desdobrar os sentidos todos, resistir nas e pelas letras, nas folhas.
Brancas como Moby Dick. Assustadoras. Buscar o não-senso do comum. Questão
ética. Estética. Algo do gênero.
Fome. Consumir. Então o
chimarrão quente. Líquido. A liquidez das coisas. As cheias. Zigmunt. O
arrastar. Derretimento. O mundo escorre. E o tempo corre. E corremos nele.
Todos. Acabar. Destruir as estruturas da tradição? E depois? Mais estruturas
novas e mais sólidas. Sentido? Filosofia pela manhã é mortal! No sábado. Deus!
Sinal de problemas, delírio. Loucura?
Brinde então a Artaud.
O ácool logo vem. Noite. E as letras se acalmam. E a folha dorme. Branca e
ameaçadora. Ilusão... as palavras surgem como exército furioso, desordenado,
cuspindo incoerências, mágoas, ironias... teorias alcoolizadas. Palavras-sopro.
Ousar enfrentar a
adiposidade estrutural da língua com a agramaticalide do delírio. Então o fim.
Com Bartleby "prefiro não".
Nenhum comentário:
Postar um comentário