
"...quando precisa inventar novos conceitos para terras desconhecidas, caem os métodos e as morais, e pensar torna-se, como diz Foucault, um "ato arriscado", uma violência que se exerce primeiro sobre si mesmo." (DELEUZE,Gilles. Conversações.p.128)
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
HOMEM SENTADO
HOMEM SENTADO
RONIE VON MARTINS
Engolia todas as dores. E já se acostumara. Não havia dor que não estivesse acostumado a engolir. Todas. Friamente às engolia. As vezes mastigava-as. Lentamente. Tudo ao seu redor era lento. Denso. Tudo era denso. Densidades estratificantes que lhe cobriam, envolviam em camadas. Como uma cebola. Não comia cebolas.
Os movimentos eram raros, da cama ao assento frente a parede que não se abria em janela, mas que se fechava em parede. E mesmo assim, seus olhos paravam ali. No espaço que só o olho do homem sentado conseguia ver. Ver? Seria uma frincha? Existiria a possibilidade do olho buscar e se esgueirar pelos interstícios invisíveis e “impossíveis” da parede?
Comia dores e bebia chimarrão. Amargo e quente. E não escuta o rádio. Mas sempre ligava o aparelho. Uma estação além das vozes chiava dialetos singulares e vetustos. E seus olhos por breves instantes pareciam brilhar.
O tempo era impreciso, já não era possível determinar se era presa de kronos ou Aion, ou se decidira deixar o corpo para um e o resto para o outro. Mas parecia que já havia preenchido seu quinhão de real com várias toneladas de memória e delírio.
Pelo substantivo louco, era definido pela família. Nunca apareciam, mas pagavam uma funcionária para limpara o pequeno apartamento. Ela chegava, lépida, faceira, pequenas e infames piadinhas nos lábios, barriga volumosa e satisfeita, espantando fantasmas e poeira com seu espanador encantado.
Ele ordenava a sua máscara que forçasse um sorriso. Cordialidade. E o que saia era uma careta engraçada que fazia a mulher sorrir e dizer mais besteiras.
A funcionária era um vento. E soprava com força todo o silêncio e a solidão do espaço do homem, mas quando saia, a gravidade puxava-os para baixo. E ele realmente não sabia se gostava do agora ou do antes.
“O que estás vendo?” as vezes a mulher perguntava e ele respondia que via a cidade da memória. E ela ria. Aquecia mais água para a térmica, perguntava se ele não queria trocar a erva. “uma carteira de cigarro” ele dizia, mais que pedia. “Eles disseram que você não pode fumar” e ele sorria. E ela trazia a carteira e ele incendiava o lugar. O fósforo incandescente por segundos frente aos olhos e em seguida a fumaça se esvaindo e abraçando o ar em valsa erótica. Lascívia. “Eles se amam.” Ele dizia. “Quem?” perguntava a mulher. “A fumaça e o ar.” A gargalhada era dela, o silêncio dele. “Você é esquisito mesmo, hein?” “É.”, dizia o verbo pensando na conjunção “e”. Este era o problema. A finitude das coisas e de si mesmo começavam a lhe causar estranhamentos. Gostaria de se ligar a outra oração, acrescentar eternamente. O meio das coisas. O verbo ser. A palavra “é” definia, estagnava e prendia tudo que não deveria ser nas estruturas sedimentares do “é”. O ser.
Ria desta suposta unidade. E se esvaia em fumaça. E dissolvido em nevoa, qual vampiro, perdia-se inteiramente pelas frestas do seu corpo real e organizado.
RONIE VON MARTINS
Engolia todas as dores. E já se acostumara. Não havia dor que não estivesse acostumado a engolir. Todas. Friamente às engolia. As vezes mastigava-as. Lentamente. Tudo ao seu redor era lento. Denso. Tudo era denso. Densidades estratificantes que lhe cobriam, envolviam em camadas. Como uma cebola. Não comia cebolas.
Os movimentos eram raros, da cama ao assento frente a parede que não se abria em janela, mas que se fechava em parede. E mesmo assim, seus olhos paravam ali. No espaço que só o olho do homem sentado conseguia ver. Ver? Seria uma frincha? Existiria a possibilidade do olho buscar e se esgueirar pelos interstícios invisíveis e “impossíveis” da parede?
Comia dores e bebia chimarrão. Amargo e quente. E não escuta o rádio. Mas sempre ligava o aparelho. Uma estação além das vozes chiava dialetos singulares e vetustos. E seus olhos por breves instantes pareciam brilhar.
O tempo era impreciso, já não era possível determinar se era presa de kronos ou Aion, ou se decidira deixar o corpo para um e o resto para o outro. Mas parecia que já havia preenchido seu quinhão de real com várias toneladas de memória e delírio.
Pelo substantivo louco, era definido pela família. Nunca apareciam, mas pagavam uma funcionária para limpara o pequeno apartamento. Ela chegava, lépida, faceira, pequenas e infames piadinhas nos lábios, barriga volumosa e satisfeita, espantando fantasmas e poeira com seu espanador encantado.
Ele ordenava a sua máscara que forçasse um sorriso. Cordialidade. E o que saia era uma careta engraçada que fazia a mulher sorrir e dizer mais besteiras.
A funcionária era um vento. E soprava com força todo o silêncio e a solidão do espaço do homem, mas quando saia, a gravidade puxava-os para baixo. E ele realmente não sabia se gostava do agora ou do antes.
“O que estás vendo?” as vezes a mulher perguntava e ele respondia que via a cidade da memória. E ela ria. Aquecia mais água para a térmica, perguntava se ele não queria trocar a erva. “uma carteira de cigarro” ele dizia, mais que pedia. “Eles disseram que você não pode fumar” e ele sorria. E ela trazia a carteira e ele incendiava o lugar. O fósforo incandescente por segundos frente aos olhos e em seguida a fumaça se esvaindo e abraçando o ar em valsa erótica. Lascívia. “Eles se amam.” Ele dizia. “Quem?” perguntava a mulher. “A fumaça e o ar.” A gargalhada era dela, o silêncio dele. “Você é esquisito mesmo, hein?” “É.”, dizia o verbo pensando na conjunção “e”. Este era o problema. A finitude das coisas e de si mesmo começavam a lhe causar estranhamentos. Gostaria de se ligar a outra oração, acrescentar eternamente. O meio das coisas. O verbo ser. A palavra “é” definia, estagnava e prendia tudo que não deveria ser nas estruturas sedimentares do “é”. O ser.
Ria desta suposta unidade. E se esvaia em fumaça. E dissolvido em nevoa, qual vampiro, perdia-se inteiramente pelas frestas do seu corpo real e organizado.
HELLdebrando
HELLdebrando Pascoal
Ronie Von Martins
Filme de terror: O bandido pega a vítima e fura seus olhos, não podemos dizer a sensação que se estampa em seu rosto, está de costas para a câmera, em seguida – provavelmente sorrindo, prazer que provém das profundezas mais intensas do inferno liga a serra elétrica, os berros desesperados da vítima comungam com o barulho ensurdecedor da serra.
Primeiro os braços e pernas. O sangue tinge as letras do texto e dos jornais. Depois, para deleite de seu espírito doentio amputa o pênis do homem que é - agora – apenas um monte de carnes.
Mas a fera não está satisfeita. Sua fome de morte e sangue não está saciada. A fera precisa de mais... E apanhando um prego, crava-o à marteladas na testa da pobre criatura.
Seria um filme banal, desses que Hollywood adora produzir, cheio de sangue e gente gritando, e que alguns assistem com a boca cheia de pipoca...
O Massacre da Serra elétrica, realização: Hildebrando Pascoal. Gênero? A mais pura realidade brasileira.
Ex-deputado, esse “senhor” está sendo julgado no Acre pelo homicídio do mecânico “Baiano” Agilson Santos Firmino.
E aí nos perguntamos: O mal é real? Palpável? Acredito que sim. Figuras como Hildebrando são exatamente a personificação de tudo que não presta nesta vida. Estão aquém da vida, urubus que se alimentam das dores todas do mundo. Monstros existem sim. Demônios existem. Está comprovado e ponto final.
Comandante de um grupo de extermínio, traficante, já havia assassinado um soldado do corpo de bombeiros... os crimes conhecidos ... Ah, e ainda por cima o digníssimo parlamentar movia dinheiro ilegal usando laranjas para burlar o sistema financeiro nacional.
Nosso “filme” de terror bota qualquer produção Hollywoodiana no bolso. E isso é uma vergonha.
Ronie Von Martins
Filme de terror: O bandido pega a vítima e fura seus olhos, não podemos dizer a sensação que se estampa em seu rosto, está de costas para a câmera, em seguida – provavelmente sorrindo, prazer que provém das profundezas mais intensas do inferno liga a serra elétrica, os berros desesperados da vítima comungam com o barulho ensurdecedor da serra.
Primeiro os braços e pernas. O sangue tinge as letras do texto e dos jornais. Depois, para deleite de seu espírito doentio amputa o pênis do homem que é - agora – apenas um monte de carnes.
Mas a fera não está satisfeita. Sua fome de morte e sangue não está saciada. A fera precisa de mais... E apanhando um prego, crava-o à marteladas na testa da pobre criatura.
Seria um filme banal, desses que Hollywood adora produzir, cheio de sangue e gente gritando, e que alguns assistem com a boca cheia de pipoca...
O Massacre da Serra elétrica, realização: Hildebrando Pascoal. Gênero? A mais pura realidade brasileira.
Ex-deputado, esse “senhor” está sendo julgado no Acre pelo homicídio do mecânico “Baiano” Agilson Santos Firmino.
E aí nos perguntamos: O mal é real? Palpável? Acredito que sim. Figuras como Hildebrando são exatamente a personificação de tudo que não presta nesta vida. Estão aquém da vida, urubus que se alimentam das dores todas do mundo. Monstros existem sim. Demônios existem. Está comprovado e ponto final.
Comandante de um grupo de extermínio, traficante, já havia assassinado um soldado do corpo de bombeiros... os crimes conhecidos ... Ah, e ainda por cima o digníssimo parlamentar movia dinheiro ilegal usando laranjas para burlar o sistema financeiro nacional.
Nosso “filme” de terror bota qualquer produção Hollywoodiana no bolso. E isso é uma vergonha.
Mão na bola
Cada vez me convenço mais que a realidade é virtualidade, e que tudo é maleável de acordo com os interesses do poder. A justiça não passa de uma argumentação. A vergonha acaba se diluindo nos discursos técnicos e a coisa “descamba”, “escorre” longe dos nossos olhos, ou como recentemente vimos; bem diante deles.
Não sei nada de esporte, e peço que perdoem minha intromissão neste nicho particular dos comentaristas esportivos; mas diante de tamanho absurdo não dá pra ficar calado.
Depois do que o Thierry Henry fez contra a Irlanda, perdi todas as esperanças no ser humano. Não. Não tem jeito mesmo. Como vou explicar pra minha filha de nove anos que eu “posso roubar se o juiz não ver”?
Cria-se então uma condicionalidade legal para a “maracutaia”, podemos roubar enquanto a justiça não está atenta - Então estamos “ralados”...dizem por aí que a justiça é cega – e tudo está normal. O que não pode é o juiz ver. O mundo pode enxergar tudo... mas se o juiz não vê... então tá “limpo.”
Deve ser por isso que essa “mão na bola” se instituiu discurso nacional. Enquanto o juiz olha pro outro lado, “dá-lhe mão na bola!”
O noticiário especializado está dizendo que o referido jogador de futebol, atacante da seleção francesa vem anunciando que depois da mão na bola irá se afastar da seleção... essas coisas... Aqui acontece disso também... roubam, roubam e depois “dão um tempo fora da política”, descansar em alguns país tropical... dinheiro não falta, e depois, quando a poeira baixar voltar e se reeleger novamente. E dá-lhe mão na bola.
Recentemente tivemos o “prazer” de assistir pelos telejornais do país outras partidas interessantes desse novo esporte; era mão na bola que não acabava mais. Boladas de dinheiro, que enfiavam pelos bolsos, meias, cuecas... e vamos parar por aqui.
Alguns até rezavam, como os jogadores fazem antes de entrar em “jogo”... Aqueles já tinham o jogo ganho.
Nada é real. Tudo é reflexo, tudo é teatro.
O trágico teatro da vida, onde infelizmente só alguns recebem os aplausos... e o pior, a grande maioria, sem saber aplaude os que zombam de sua ingenuidade.
E o que digo pra minha filha de nove anos? Pode roubar se o juiz não estiver olhando? Prefiro dizer que tudo é ficção: “Não dá bola Luzia, isso é tudo ficção, é como um filme, foi o diretor que mandou.”
Ela me olha com grandes olhos zombeteiros... ela sabe, todo o mundo sabe, menos o juiz.
Fim de jogo... roubou...tá roubado...
...sem chance de marcar outro jogo.
Ronie Von Rosa Martins
Não sei nada de esporte, e peço que perdoem minha intromissão neste nicho particular dos comentaristas esportivos; mas diante de tamanho absurdo não dá pra ficar calado.
Depois do que o Thierry Henry fez contra a Irlanda, perdi todas as esperanças no ser humano. Não. Não tem jeito mesmo. Como vou explicar pra minha filha de nove anos que eu “posso roubar se o juiz não ver”?
Cria-se então uma condicionalidade legal para a “maracutaia”, podemos roubar enquanto a justiça não está atenta - Então estamos “ralados”...dizem por aí que a justiça é cega – e tudo está normal. O que não pode é o juiz ver. O mundo pode enxergar tudo... mas se o juiz não vê... então tá “limpo.”
Deve ser por isso que essa “mão na bola” se instituiu discurso nacional. Enquanto o juiz olha pro outro lado, “dá-lhe mão na bola!”
O noticiário especializado está dizendo que o referido jogador de futebol, atacante da seleção francesa vem anunciando que depois da mão na bola irá se afastar da seleção... essas coisas... Aqui acontece disso também... roubam, roubam e depois “dão um tempo fora da política”, descansar em alguns país tropical... dinheiro não falta, e depois, quando a poeira baixar voltar e se reeleger novamente. E dá-lhe mão na bola.
Recentemente tivemos o “prazer” de assistir pelos telejornais do país outras partidas interessantes desse novo esporte; era mão na bola que não acabava mais. Boladas de dinheiro, que enfiavam pelos bolsos, meias, cuecas... e vamos parar por aqui.
Alguns até rezavam, como os jogadores fazem antes de entrar em “jogo”... Aqueles já tinham o jogo ganho.
Nada é real. Tudo é reflexo, tudo é teatro.
O trágico teatro da vida, onde infelizmente só alguns recebem os aplausos... e o pior, a grande maioria, sem saber aplaude os que zombam de sua ingenuidade.
E o que digo pra minha filha de nove anos? Pode roubar se o juiz não estiver olhando? Prefiro dizer que tudo é ficção: “Não dá bola Luzia, isso é tudo ficção, é como um filme, foi o diretor que mandou.”
Ela me olha com grandes olhos zombeteiros... ela sabe, todo o mundo sabe, menos o juiz.
Fim de jogo... roubou...tá roubado...
...sem chance de marcar outro jogo.
Ronie Von Rosa Martins
sábado, 5 de dezembro de 2009
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