segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A herética língua do poema nu

ESCREVER


Como exercício. Oficina. Malho.
Entortar o aço, dobrar o indobrável. Escrever no suor da gota que me disfaço
Escrever na brancura da folha que ameaça e zomba e mata.
Garimpar letra por letra no cansaço,
Montar a frase com sentido ou além dele
Montar o verbo – selvagem animal
Resistir ao tombo... ou aproveitar
do verbo todos os tombos, deslizes, decaídas,
Empanturrar-se do verbo e vomita-lo furioso no sentido alheio
Gramática ancestral, primeva, a-gramática
Gramática das loucuras profundas.
Erigir o discurso do louco
Confrontar o outro,
O santo,
O são,
O ser.

Produzir o não-discurso. Aquele que sufoca o senso comum,
Aquele que expõe a carne e a pálida textura da brevidade do instante
Perante a gravata e alto salto da gramática ética
A herética língua do poema nu.

Escrever na frincha do que não é dito
Grafar na fresta, no espaço mínimo do piscar...
Pescar da profundeza da pele
A gargalhada rizomática das inconstâncias.

E pedir tradução e interpretação
E exigir ao olho atônito a razoabilidade
E ordenar um sentido

E apagar-se frenético
Espedaçando-se com a borracha.

Ronie Von Rosa Martins

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