Estaria cansado? Sim,claro. Um
estado de lassidão. Imensidão de nada. Caminhar no deserto? Sem água? Quase.
Quase o deserto. Talvez a multidão. A desértica multidão. Todos e nada.
Qual a estratégia? Haveria
alguma? Estavam acostumados a todas as estratégias, agiam como inimigos. Não
que houvesse algo para isso. Mas como um tipo, uma personagem, uma posição. A
linha que diferenciava.
Tinha certa pena? Sim, claro.
Eram jovens, imaturos, fortes e audazes. Mas imaturos. Quase infantis.
Sinceridade que escorria da boca. Alegria que se mesclava perigosamente com indelicadeza.
Juventude. Agressividade.
E ele. Velho? Sim. Pare eles.
Para eles era um velho. O jovem parece desqualificar tudo que não vibra na sua
sintonia, no seu gosto.
E ele? Estava cansado.O discurso
as vezes se erguia em busca de recepção. Mas já era só retórica. Rebatido pelo
desdém, indiferença, impenetrabilidade.
Ouvir? O ouvir era uma coisa
impositiva. Ordem, ameaça. E sofria. Pois na ação empenhada, contrariava sua
própria forma de pensar. Mas estavam todos dentro da estética do rebanho. Da ordenação. A
sociedade gostava disso. Alguém ordenando, decidindo, dizendo e definindo. Os
outros seguindo. Através de mecanismos disciplinares e corretivos.
Quando acabou. Recolheu o
material. O trabalho, o resultado. Eles correram para a rua. Alegres, como se
estivessem presos, encarcerados. Como se ele, o velho, fosse o carcereiro de
suas liberdades. Era?
O café na mesa. O estofado. A
perna cruzada. A conversa dos colegas. A mesma. Sempre a mesma. No mural mais
afazeres. Reuniões, trabalhos, notas, documentos e mais...
Na bolsa um livro pulsava.
Gostaria de abrir. Ler. Ler ainda era um caminho. Sabia. Pelo menos para ele.
Nirvana. Religião.